Sayh al Uhaymir 169 no deserto. Crédito: Beda Hofmann

Odisseia de uma rocha lunar

Um achado no deserto de Omã permitiu aos cientistas a reconstrução mais detalhada de sempre da história de um meteorito lunar. Os resultados revelam que a rocha teve uma vida violenta e que suportou pelo menos quatro colisões mesmo antes de ter saído da Lua.

O meteorito, chamado Sayh al Uhaymir 169, foi descoberto por Edwin Gnos e seus colegas da Universidade de Berna, Suiça, durante uma expedição a Omã em 2002. É um dos 30 meteoritos que foram encontrados na Terra desde 1979.

A equipa chegou à conclusão que a rocha veio da cratera de impacto Lalande na Lua, uma área com apenas alguns quilómetros de diâmetro. É a primeira vez que os cientistas foram capazes de localizar o local de nascimento de um meteorito lunar com tamanha precisão.

A melhor pista veio dos invulgares altos níveis do elemento radioactivo tório. “A química desta rocha é bastante extraordinária. Não existe outra como esta, seja como meteorito ou como uma das recolhidas pelas missões Apollo,”, disse Gnos.

A equipa usou um mapa detalhado do tório lunar criado pela sonda da NASA Lunar Prospector em 1998-99 para descobrir que a rocha teria que ter vindo de algures dentro de Mare Imbrium, que forma o olho direito do ‘homem na Lua’. Outros dados minerais indicavam esse local como Lalande.

Gnos e a sua equipa determinaram a história de Sayh al Uhaymir 169 comparando a razão dos elementos radioactivos presentes na rocha. À medida que os elementos radioactivos decaiem, estes transformam-se noutros. Nas rochas sólidas, estes produtos do decaimento são capturados e não conseguem escapar, por isso a relação entre o urânio e o chumbo ajuda a revelar há quanto tempo é que a rocha solidificou.

Quaisquer grandes impactos derretem partes da rocha, repondo o relógio radioactivo nessas áreas. Por isso, comparando as idades dos cristais em diferentes partes da rocha mostra quando e como foi severamente “mal-tratada”. Durante o tempo que o meteorito passou no espaço foi também bombardeado com raios cósmicos, o que alterou a sua composição química, deixando uma assinatura distinta da sua viagem até à Terra.

As análises da equipa sugerem que a rocha foi apanhada no enorme impacto que criou Mare Imbrium, que Gnos estima ter acontecido há cerca de 3.9 mil milhões de anos atrás. A rocha foi posteriormente ressaltada pela crusta da Lua por mais dois impactos, há 2.8 mil milhões e 200 milhões de anos atrás, o que pode ter acontecido devido à colisão com asteróides.

Um impacto final há pouco mais de 340,000 anos atirou a rocha para longe da Lua, flutuando no espaço antes de aterrar na Terra há 10,000 anos atrás. Provavelmente permaneceu no deserto de Omã sem perturbação desde aí.

Gnos calcula para a cratera Imbrium uma idade um pouco maior que as amostras lunares recolhidas pelas missões Apollo sugerem. Elas indicam que o impacto foi há 3.85 mil milhões de anos atrás. A nova data é importante para os cientistas planetários que usam as crateras da Lua como um calendário pictórico que mostra quantos meteoritos havia no nosso Sistema Solar a diferentes alturas dos últimos 4 mil milhões de anos.

A equipa de Gnos irá tentar regressar a Omã em busca de mais meteoritos lá para o fim deste ano.

Sobre Miguel Montes

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