Descoberta de pulsar de anã branca lança luz sobre a evolução estelar

Impressão artística de um pulsar de anã branca. Neste sistema estelar binário, uma anã branca em rotação rápida (à direita) acelera os eletrões até quase à velocidade da luz. Estas partículas altamente energéticas produzem surtos de radiação que atingem a estrela anã vermelha que a acompanha (esquerda), fazendo com que todo o sistema pulse desde o rádio até aos raios-X.
Crédito: M. Garlick/Universidade de Warwick/ESO

A descoberta de um tipo raro de sistema estelar, com uma anã branca, permitiu uma nova compreensão da evolução estelar.

As anãs brancas são estrelas pequenas e densas, tipicamente do tamanho de um planeta. Formam-se quando uma estrela de baixa massa queima todo o seu combustível, perdendo as suas camadas exteriores. Por vezes referidas como “fósseis estelares”, fornecem uma visão sobre diferentes aspetos da formação e evolução das estrelas.

Um tipo raro de pulsar de anã branca foi descoberto apenas pela segunda vez, numa investigação liderada pela Universidade de Warwick. Os pulsares de anãs brancas incluem um remanescente estelar em rápida rotação, de nome anã branca, que atinge a sua vizinha – uma anã vermelha – com poderosos feixes de partículas elétricas e radiação, fazendo com que todo o sistema dramaticamente aumente e diminua de brilho em intervalos regulares. Isto deve-se aos fortes campos magnéticos, mas os cientistas não sabem ao certo o que os provoca.

Uma teoria chave que explica os fortes campos magnéticos é o “modelo do dínamo” – que as anãs brancas têm dínamos (geradores elétricos) no seu núcleo, tal como a Terra, mas muito mais potentes. Mas para que esta teoria pudesse ser testada, os cientistas precisavam de procurar outros pulsares de anãs brancas para ver se as suas previsões se confirmavam.

Publicado na revista Nature Astronomy, os cientistas financiados pelo STFC (Science and Technology Facilities Council) do Reino Unido descrevem o pulsar de anã branca recém-detetado, J191213.72-441045.1 (J1912-4410 para abreviar). É apenas a segunda vez que um sistema estelar deste género é encontrado, após a descoberta de AR Scorpii (Ar Sco) em 2016.

A 773 anos-luz da Terra e girando 300 vezes mais depressa do que o nosso planeta, o pulsar de anã branca tem um tamanho semelhante ao da Terra, mas uma massa pelo menos tão grande quanto o Sol. Isto significa que uma colher de chá de material de uma anã branca pesaria cerca de 15 toneladas. As anãs brancas começam as suas vidas a temperaturas extremamente quentes antes de arrefecerem ao longo de milhares de milhões de anos, e a baixa temperatura de J1912-4410 aponta para uma idade avançada.

A Dra. Ingrid Pelisoli, do Departamento de Física da Universidade de Warwick, afirmou: “A origem dos campos magnéticos é uma grande questão em aberto em muitos domínios da astronomia, e isto é particularmente verdade para as anãs brancas. Os campos magnéticos das anãs brancas podem ser mais de um milhão de vezes mais fortes do que o campo magnético do Sol e o modelo do dínamo ajuda a explicar porquê. A descoberta de J1912-4410 constituiu um avanço fundamental nesta área.

“Usámos dados de alguns levantamentos diferentes para encontrar candidatos, concentrando-nos em sistemas com características semelhantes às de AR Sco. Seguimos todos os candidatos com a ULTRACAM (na altura situada no NTT, ou New Technology Telescope), que deteta as variações muito rápidas de luz esperadas dos pulsares de anãs brancas. Depois de observarmos algumas dezenas de candidatos, encontrámos um que apresentava variações de luz muito semelhantes às de AR Sco. A nossa campanha de acompanhamento com outros telescópios revelou que, aproximadamente de cinco em cinco minutos, este sistema enviava um sinal de rádio e de raios-X na nossa direção.

“Isto confirmou que existem mais pulsares de anãs brancas, tal como previsto por modelos anteriores. Havia outras previsões feitas pelo modelo de dínamo que foram confirmadas pela descoberta de J1912-4410. Devido à sua idade avançada, as anãs brancas no sistema de pulsares devem ser frias. As suas companheiras devem estar suficientemente próximas para que a atração gravitacional da anã branca tenha sido, no passado, suficientemente forte para capturar massa da companheira, o que faz com que girem rapidamente. Todas estas previsões se aplicam ao novo pulsar encontrado: a temperatura da anã branca é inferior a 13.000 K, gira sobre o seu eixo uma vez a cada cinco minutos e a atração gravitacional da anã branca tem um forte efeito na companheira.

“Esta investigação é uma excelente demonstração de que a ciência funciona – podemos fazer previsões e pô-las à prova e é assim que qualquer ciência progride”.

Axel Schwope, do Instituto Leibniz para Astrofísica em Potsdam, que lidera um estudo complementar publicado sob a forma de carta na revista Astronomy and Astrophysics, acrescentou: “Estamos entusiasmados por termos encontrado, de forma independente, o objeto no levantamento de raios-X de todo o céu realizado com o SRG/eROSITA. A investigação de acompanhamento com o satélite XMM-Newton da ESA revelou as pulsações no regime de raios-X altamente energéticos, confirmando assim a natureza invulgar do novo objeto e estabelecendo firmemente os pulsares de anãs brancas como uma nova classe”.

// Universidade de Warwick (comunicado de imprensa)
// Instituto Leibniz para Astrofísica em Potsdam (comunicado de imprensa)
// Universidade de Oxford (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)
// Artigo científico complementar (Astronomy & Astrophysics)
// Artigo científico complementar (arXiv.org)

Saiba mais:

Anãs brancas:
Wikipedia
NASA

Anãs vermelhas:
Wikipedia

NTT (New Technology Telescope):
ESO
Wikipedia

eROSITA:
Instituto Max Planck para Física Extraterrestre
Wikipedia

Observatório XMM-Newton:
ESA
Wikipedia

Sobre Miguel Montes

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