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Dados de sismos marcianos revelam a natureza irregular do interior do Planeta Vermelho
2 de setembro de 2025
 

Os cientistas pensam que impactos gigantescos - como o representado nesta ilustração - ocorreram em Marte há 4,5 mil milhões de anos, injetando os detritos do impacto nas profundezas do manto do planeta. O módulo de aterragem InSight da NASA detetou estes detritos antes do fim da missão, em 2022.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 
     
 
 
 

Foram detetados, nas profundezas do planeta Marte, o que parecem ser fragmentos de impactos massivos no planeta, ocorridos há 4,5 mil milhões de anos. A descoberta foi feita graças ao módulo InSight da NASA, já aposentado, que registou os achados antes do fim da missão em 2022. Os antigos impactos libertaram energia suficiente para derreter áreas continentais da crosta primitiva e do manto em vastos oceanos de magma, injetando simultaneamente os fragmentos do impactor e os detritos marcianos nas profundezas do interior do planeta.

Não há forma de saber exatamente o que atingiu Marte: o Sistema Solar primitivo estava repleto de diferentes objetos rochosos que o poderiam ter feito, incluindo alguns tão grandes que eram efetivamente protoplanetas. Os restos destes impactos ainda existem sob a forma de pedaços que chegam a ter 4 quilómetros de diâmetro e estão espalhados pelo manto marciano. Oferecem um registo preservado apenas em mundos como Marte, cuja ausência de placas tectónicas impediu que o seu interior fosse remexido da mesma forma que o da Terra, através de um processo conhecido como convecção.

A descoberta foi relatada na passada quinta-feira, dia 28 de agosto, num estudo publicado na revista Science.

"Nunca antes tínhamos visto o interior de um planeta com tanto pormenor e clareza", disse o autor principal do artigo, Constantinos Charalambous, do Imperial College London. "O que estamos a ver é um manto repleto de fragmentos antigos. A sua sobrevivência até aos dias de hoje diz-nos que o manto de Marte evoluiu lentamente ao longo de milhares de milhões de anos. Na Terra, características como estas podem muito bem ter sido largamente apagadas".

O InSight, gerido pelo JPL da NASA, no sul da Califórnia, colocou o primeiro sismómetro na superfície de Marte em 2018. O instrumento extremamente sensível registou 1319 sismos marcianos antes do fim da missão do módulo de aterragem em 2022.

 
O InSight da NASA tirou esta selfie em 2019 usando uma câmara no seu braço robótico. O módulo de aterragem também utilizou o seu braço para colocar o sismómetro da missão, cujos dados foram utilizados num estudo de 2025 que mostra que os impactos deixaram pedaços de detritos nas profundezas do interior do planeta.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

Os sismos produzem ondas que se alteram à medida que atravessam diferentes tipos de material, proporcionando aos cientistas uma forma de estudar o interior de um corpo planetário. Até à data, a equipa do InSight mediu o tamanho, a profundidade e a composição da crosta, do manto e do núcleo de Marte. Esta última descoberta relativa à composição do manto sugere o quanto ainda há para descobrir nos dados do InSight.

"Sabíamos que Marte era uma cápsula do tempo com registos da sua formação inicial, mas não prevíamos a clareza com que poderíamos ver com o InSight", disse Tom Pike do Imperial College London, coautor do artigo científico.

Caça aos sismos

Marte não tem as placas tectónicas que produzem os tremores de terra com que muitas pessoas em áreas sismicamente ativas estão familiarizadas. Mas há dois outros tipos de sismos na Terra que também ocorrem em Marte: os causados por rochas que se fraturam sob calor e pressão, e os causados por impactos de meteoroides.

Dos dois tipos, os impactos de meteoroides em Marte produzem ondas sísmicas de alta frequência que viajam desde a crosta até ao manto do planeta, de acordo com um artigo publicado no início deste ano na revista Geophysical Research Letters. Localizado sob a crosta do planeta, o manto marciano pode ter até 1550 quilómetros de espessura e é feito de rocha sólida que pode atingir temperaturas de 1500º Celsius.

Sinais baralhados

O novo artigo da Science identifica oito sismos marcianos cujas ondas sísmicas continham uma energia forte e de alta frequência que chegou às profundezas do manto, onde as suas ondas sísmicas eram nitidamente alteradas.

"Quando vimos isto pela primeira vez nos nossos dados sísmicos, pensámos que os atrasos estavam a acontecer na crosta marciana", disse Pike. "Mas depois reparámos que quanto mais longe as ondas sísmicas viajavam através do manto, mais estes sinais de alta frequência eram atrasados".

 
Nesta ilustração, uma vista em corte de Marte (não à escala) revela detritos de impactos antigos espalhados pelo manto do planeta. Na superfície, à esquerda, o impacto de um meteoroide envia sinais sísmicos para o interior; à direita, o módulo de aterragem InSight da NASA.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

Usando simulações de computador de todo o planeta, a equipa viu que o abrandamento e a baralhação só aconteciam quando os sinais passavam por regiões pequenas e localizadas dentro do manto. Também determinaram que estas regiões parecem ser pedaços de material com uma composição diferente da do manto circundante.

Com um enigma resolvido, a equipa concentrou-se noutro: como é que esses pedaços foram lá parar.

Voltando atrás no tempo, concluíram que os blocos chegaram provavelmente como asteroides gigantes ou outros materiais rochosos que atingiram Marte durante o início do Sistema Solar, gerando esses oceanos de magma à medida que penetravam profundamente no manto, trazendo consigo fragmentos da crosta e do manto.

Charalambous compara o padrão a vidro estilhaçado - alguns cacos grandes com muitos fragmentos mais pequenos. O padrão é consistente com uma grande libertação de energia que espalhou muitos fragmentos de material pelo manto. Também se enquadra bem no pensamento atual de que, nos primórdios do sistema Solar, os asteroides e outros corpos planetários bombardeavam regularmente os jovens planetas.

Na Terra, a crosta e o manto superior são continuamente reciclados pela tectónica de placas, que empurra a orla de uma placa para o interior quente, onde, por convecção, o material mais quente e menos denso sobe e o material mais frio e mais denso desce. Marte, em contraste, não tem placas tectónicas e o seu interior circula de forma muito mais lenta. O facto de ainda hoje serem visíveis estruturas tão subtis, disse Charalambous, "diz-nos que Marte não sofreu a agitação vigorosa que teria eliminado estes fragmentos".

E, desta forma, Marte pode indicar o que pode estar escondido sob a superfície de outros planetas rochosos que não têm tectónica de placas, incluindo Vénus e Mercúrio.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Imperial College London (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)

 


Quer saber mais?

CCVAlg - Astronomia:
07/02/2025 - InSight descobre que os sismos provocados por meteoroides em Marte "vão mais fundo" do que se pensava

Marte:
NASA
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
The Nine Planets

InSight:
NASA
Wikipedia

 
   
 
 
 
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