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Será que a evolução planetária favorece a vida inteligente? Estudo argumenta que podemos não estar assim tão sós
18 de fevereiro de 2025
 

Um novo modelo põe em causa a teoria dos "passos difíceis", defendida há décadas, de que a vida inteligente foi um acontecimento incrivelmente improvável e sugere que talvez não tenha sido assim tão difícil ou improvável. A equipa de investigadores afirmou que a nova interpretação da origem da humanidade aumenta a probabilidade de vida inteligente noutros locais do Universo.
Crédito: NASA
 
     
 
 
 

De acordo com um novo modelo de como a vida inteligente se desenvolveu na Terra, a humanidade pode não ser extraordinária, mas sim o resultado evolucionário natural do nosso planeta e provavelmente de outros.

O modelo, que contraria a teoria dos "passos difíceis", defendida há décadas, segundo a qual a vida inteligente foi um acontecimento incrivelmente improvável, sugere que talvez não tenha sido assim tão difícil ou improvável. Uma equipa de investigadores da Universidade do Estado da Pensilvânia, EUA, que liderou o trabalho, afirma que a nova interpretação da origem da humanidade aumenta a probabilidade de haver vida inteligente noutras partes do Universo.

"Esta é uma mudança significativa na forma como pensamos acerca da história da vida", disse Jennifer Macalady, professora de geociências na Universidade do Estado da Pensilvânia e coautora do artigo científico, que foi publicado dia 14 de fevereiro na revista Science Advances. "Sugere que a evolução da vida complexa pode ter menos a ver com sorte e mais com a interação entre a vida e o seu ambiente, abrindo novas e excitantes vias de investigação na nossa busca para compreender as nossas origens e o nosso lugar no Universo".

Inicialmente desenvolvido pelo físico teórico Brandon Carter em 1983, o modelo dos "passos difíceis" defende que a nossa origem evolutiva é altamente improvável devido ao tempo que os seres humanos demoraram a evoluir na Terra relativamente ao tempo de vida total do Sol - e, por conseguinte, a probabilidade de existirem seres semelhantes aos humanos para além da Terra é extremamente baixa.

No novo estudo, uma equipa de investigadores, que incluía astrofísicos e geobiólogos, argumentou que o ambiente da Terra era inicialmente inóspito para muitas formas de vida e que os principais passos evolutivos só se tornaram possíveis quando o ambiente global atingiu um estado "permissivo".

Por exemplo, a vida animal complexa requer um certo nível de oxigénio na atmosfera, pelo que a oxigenação da atmosfera terrestre através de micróbios e bactérias fotossintetizantes foi um passo evolucionário natural para o planeta, que criou uma janela de oportunidade para o desenvolvimento de formas de vida mais recentes, explicou Dan Mills, investigador pós-doutorado na Universidade de Munique e principal autor do artigo científico.

"Estamos a argumentar que a vida inteligente pode não necessitar de uma série de golpes de sorte para existir", disse Mills, que trabalhou no laboratório de astrobiologia de Macalady na Universidade do Estado da Pensilvânia como investigador universitário. "Os seres humanos não evoluíram 'cedo' ou 'tarde' na história da Terra, mas 'a tempo', quando as condições estavam reunidas. Talvez seja apenas uma questão de tempo, e talvez outros planetas consigam atingir estas condições mais rapidamente do que a Terra, enquanto outros planetas podem demorar ainda mais tempo".

A previsão central da teoria dos "passos difíceis" afirma que existem muito poucas, ou nenhumas, outras civilizações em todo o Universo, porque passos como a origem da vida, o desenvolvimento de células complexas e o aparecimento da inteligência humana são improváveis, com base na interpretação de Carter de que o tempo de vida total do Sol é de 10 mil milhões de anos e a idade da Terra de cerca de 5 mil milhões de anos.

No novo estudo, os investigadores propuseram que o momento das origens humanas pode ser explicado pela abertura sequencial de "janelas de habitabilidade" ao longo da história da Terra, impulsionadas por alterações na disponibilidade de nutrientes, na temperatura da superfície do mar, nos níveis de salinidade dos oceanos e na quantidade de oxigénio na atmosfera. Tendo em conta todos estes fatores, a Terra só recentemente se tornou hospitaleira para a humanidade - é simplesmente o resultado natural destas condições em ação.

"Estamos a pensar que, em vez de basearmos as nossas previsões no tempo de vida do Sol, devemos usar uma escala de tempo geológica, porque é esse o tempo que a atmosfera e a geografia demoram a mudar", disse Jason Wright, professor de astronomia e astrofísica na Universidade do Estado da Pensilvânia e coautor do artigo científico. "Estas são escalas de tempo normais na Terra. Se a vida evolui com o planeta, então evoluirá numa escala de tempo planetária a um ritmo planetário".

Wright explicou que parte da razão pela qual o modelo dos "passos difíceis" prevaleceu durante tanto tempo se deve ao facto de ter tido origem na sua própria disciplina, a astrofísica, que é o campo padrão utilizado para compreender a formação de planetas e sistemas celestes. O artigo da equipa é uma colaboração entre físicos e geobiólogos, cada um aprendendo com as áreas do outro para desenvolver uma imagem com nuances de como a vida evolui num planeta como a Terra.

"Este artigo científico é o ato mais generoso de trabalho interdisciplinar", disse Macalady, que também dirige o Centro de Investigação Astrobiológica da Universidade do Estado da Pensilvânia. "Os nossos campos estavam muito afastados e pusemo-los na mesma página para responder à questão de saber como chegámos aqui e se estamos sozinhos. Havia um abismo e nós construímos uma ponte".

Os investigadores disseram que tencionam testar o seu modelo alternativo, incluindo questionar o estatuto único dos propostos "passos difíceis" evolutivos. Os projetos de investigação recomendados estão descritos no documento e incluem trabalhos como a procura de bioassinaturas nas atmosferas de planetas para lá do nosso Sistema Solar, como a presença de oxigénio. A equipa também propôs testar os requisitos dos "passos difíceis" propostos para determinar o quão difíceis são realmente, estudando formas de vida uni e multicelulares em condições ambientais específicas, tais como níveis mais baixos de oxigénio e de temperatura.

Para além dos projetos propostos, a equipa sugeriu que a comunidade de investigadores investigasse se as inovações - como a origem da vida, a fotossíntese, as células eucarióticas, a multicelularidade animal e o Homo sapiens - são acontecimentos verdadeiramente singulares na história da Terra. Poderão inovações semelhantes ter evoluído de forma independente no passado, mas as evidências de que ocorreram perderam-se devido à extinção ou a outros fatores?

"Esta nova perspetiva sugere que o aparecimento de vida inteligente pode não ser, afinal, um tiro no escuro", disse Wright. "Em vez de uma série de acontecimentos improváveis, a evolução pode ser mais um processo previsível, que se desenrola à medida que as condições globais o permitem. A nossa estrutura aplica-se não só à Terra, mas também a outros planetas, aumentando a possibilidade de existir vida semelhante à nossa noutros locais".

// Universidade do Estado da Pensilvânia (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science Advances)

 


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Cronologia da evolução da vida:
Wikipedia

 
   
 
 
 
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