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Amostra do asteroide Bennu revela uma mistura de ingredientes para a vida
31 de janeiro de 2025
 

Nesta imagem, Jason Dworkin segura um frasco que contém parte da amostra do asteroide Bennu entregue à Terra pela missão OSIRIS-REx (Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, and Security – Regolith Explorer) da NASA em 2023. Dworkin é cientista do projeto desta missão no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland.
Crédito: NASA/James Tralie
 
     
 
 
 

Estudos de rocha e poeira do asteroide Bennu, entregues à Terra pela nave espacial OSIRIS-REx (Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification and Security-Regolith Explorer) da NASA, revelaram moléculas que, no nosso planeta, são fundamentais para a vida, bem como um historial de água salgada que poderia ter servido de "caldo" para estas substâncias interagirem e se combinarem.

As descobertas não mostram evidências da existência de vida, mas sugerem que as condições necessárias para o aparecimento da vida estavam espalhadas por todo o Sistema Solar primitivo, aumentando as probabilidades da vida se ter formado noutros planetas e luas.

"A missão OSIRIS-REx da NASA já está a reescrever o manual do que compreendemos acerca dos primórdios do nosso Sistema Solar", disse Nicky Fox, administradora associada do Diretorado de Missões Científicas na sede da NASA em Washington, EUA. "Os asteroides fornecem uma cápsula do tempo para a história do nosso planeta e as amostras de Bennu são fundamentais para a nossa compreensão dos ingredientes do nosso Sistema Solar que existiam antes do início da vida na Terra".

Num conjunto de artigos científicos publicados na passada quarta-feira nas revistas Nature e Nature Astronomy, cientistas da NASA e de outras instituições partilharam os resultados das primeiras análises pormenorizadas dos minerais e moléculas das amostras de Bennu, que a OSIRIS-REx entregou à Terra em 2023.

Detalhados no artigo científico da Nature Astronomy, entre as deteções mais convincentes estavam os aminoácidos - 14 dos 20 que a vida na Terra usa para fazer proteínas - e todas as cinco nucleobases que a vida na Terra usa para armazenar e transmitir instruções genéticas em biomoléculas terrestres mais complexas, como o ADN e o ARN, incluindo a forma de organizar os aminoácidos em proteínas.

Os cientistas também descreveram abundâncias excecionalmente elevadas de amoníaco nas amostras de Bennu. O amoníaco é importante para a biologia porque pode reagir com o formaldeído, que também foi detetado nas amostras, para formar moléculas complexas, como os aminoácidos - dadas as condições adequadas. Quando os aminoácidos se ligam em cadeias longas, formam as proteínas, que são responsáveis por quase todas as funções biológicas.

Estes blocos de construção da vida detetados nas amostras de Bennu já foram encontrados anteriormente em rochas extraterrestres. No entanto, a sua identificação numa amostra imaculada recolhida no espaço apoia a ideia de que os objetos que se formaram longe do Sol podem ter sido uma fonte importante dos ingredientes precursores da vida em todo o Sistema Solar.

"As pistas que procuramos são tão minúsculas e tão facilmente destruídas ou alteradas pela exposição ao ambiente terrestre", disse Danny Glavin, cientista sénior de amostras no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, e coautor principal do artigo científico publicado na Nature Astronomy. "É por isso que algumas destas novas descobertas não seriam possíveis sem uma missão de entrega de amostras, medidas meticulosas de controlo de contaminação e uma cuidadosa conservação e armazenamento deste precioso material de Bennu".

Enquanto a equipa de Glavin analisava as amostras de Bennu em busca de indícios de substâncias relacionadas com a vida, os seus colegas, liderados por Tim McCoy, curador de meteoritos do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, em Washington, e Sara Russell, mineralogista cósmica do Museu de História Natural de Londres, procuravam pistas sobre o ambiente em que estas moléculas se teriam formado. Na revista Nature, os cientistas descrevem ainda evidências de um ambiente antigo bem adequado para dar início à química da vida.

Desde calcite a halite e a silvite, os cientistas identificaram vestígios de 11 minerais na amostra de Bennu que se formam quando a água, contendo sais dissolvidos, se evapora durante longos períodos de tempo, deixando para trás os sais sob a forma de cristais sólidos.

Salmouras semelhantes foram detetadas ou sugeridas em todo o Sistema Solar, incluindo no planeta anão Ceres e na lua de Saturno, Encélado.

Embora os cientistas tenham detetado anteriormente vários evaporitos em meteoritos que caem para a superfície da Terra, nunca tinham visto um conjunto completo que preservasse um processo de evaporação que poderia ter durado milhares de anos ou mais. Alguns minerais encontrados em Bennu, como o trona, foram descobertos pela primeira vez em amostras extraterrestres.

"Estes artigos científicos andam realmente de mãos dadas na tentativa de explicar como é que os ingredientes da vida se juntaram para fazer o que vemos neste asteroide aquosamente alterado", disse McCoy.

Apesar de todas as respostas que a amostra de Bennu forneceu, subsistem várias questões. Muitos aminoácidos podem ser criados em duas versões espelhadas, como um par de mãos esquerda e direita. A vida na Terra produz quase exclusivamente a variedade "canhota", mas as amostras de Bennu contêm uma mistura igual de ambas. Isto significa que, na Terra primitiva, os aminoácidos também podem ter começado numa mistura igual. A razão pela qual a vida "virou à esquerda" em vez de "virar à direita" continua a ser um mistério.

"A OSIRIS-REx tem sido uma missão muito bem-sucedida", disse Jason Dworkin, cientista do projeto OSIRIS-REx no Centro Espacial Goddard da NASA e coautor principal do artigo científico da Nature Astronomy. "Os dados da OSIRIS-REx acrescentam 'pinceladas' importantes a um quadro de um Sistema Solar repleto de potencial para a vida. Porque é que, até agora, só vemos vida na Terra e não noutros locais, essa é a questão verdadeiramente fascinante".

// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #2 (Nature)

 


Quer saber mais?

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01/10/2024 - OSIRIS-REx, 1 ano depois: amostra de asteroide continua a fornecer pistas sobre o início do Sistema Solar e as origens da vida na Terra
28/06/2024 - Descoberta surpreendente de fosfato nas amostras do asteroide Bennu recolhidas pela OSIRIS-REx
13/10/2023 - Amostra do asteroide Bennu contém carbono e água

Asteroide Bennu:
NASA
NASA - 2 
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OSIRIS-REx:
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Amoníaco:
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Ocorrência extraterrestre (Wikipedia)

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Trona:
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Quiralidade na bioquímica (Wikipedia)

 
   
 
 
 
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