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A PREVISÃO DO TEMPO PARA VÉNUS
23 de julho de 2021

 


Os três principais padrões meteorológicos em Vénus. Os investigadores pensam que a circulação diurna meridional e a recém-descoberta circulação equatorial noturna podem alimentar a super-rotação planetária que domina a superfície de Vénus.
Crédito: JASA/Imamura et al.

 

Pouco se sabe sobre o clima noturno de Vénus, pois a ausência de luz solar dificulta as imagens. Agora, investigadores desenvolveram uma maneira de usar sensores infravermelhos a bordo do orbitador venusiano Akatsuki para revelar os primeiros detalhes do clima noturno do nosso vizinho mais próximo. Os seus métodos analíticos podem ser usados para estudar outros planetas, incluindo Marte, bem como os gigantes gasosos. Além disso, o estudo do clima venusiano concedido pelos seus métodos pode permitir aos investigadores aprender mais sobre os mecanismos que sustentam os sistemas meteorológicos da Terra.

A Terra e Vénus têm muito em comum. São semelhantes em tamanho e em massa, estão ambos dentro da mesma região orbital conhecida como zona habitável (que se pensa suportar água líquida e possivelmente vida), ambos têm uma superfície sólida e ambos têm uma atmosfera com clima. Portanto, o estudo do clima em Vénus pode realmente ajudar os investigadores na sua busca para melhor entender também o clima da Terra. Para tal, os cientistas precisam de observar o movimento das nuvens em Vénus dia e noite em certos comprimentos de onda infravermelhos. No entanto, até agora, apenas o clima no lado diurno era facilmente acessível. Anteriormente, apenas eram possíveis algumas observações noturnas infravermelhas do clima noturno, mas estas eram demasiado limitadas para pintar uma imagem clara do clima geral de Vénus.

É aqui que entra o orbitador venusiano Akatsuki. Lançado em 2010, é a primeira sonda japonesa a orbitar outro planeta. A sua missão é observar Vénus e o seu sistema climático usando uma variedade de instrumentos a bordo. A sonda Akatsuki transporta uma câmara infravermelha que não depende da iluminação do Sol para ver. Mesmo assim não consegue resolver detalhes no lado noturno de Vénus, no entanto deu aos cientistas os dados que precisavam para ver as coisas indiretamente.

"Os padrões de nuvem em pequena escala nas imagens diretas são ténues e frequentemente indistinguíveis do ruído de fundo," disse o professor Takeshi Imamura da Universidade de Tóquio. "Para ver os detalhes, precisávamos de suprimir o ruído. Na astronomia e nas ciências planetárias, é comum combinar imagens para tal, pois as características reais numa 'pilha' de imagens parecidas escondem rapidamente o ruído. No entanto, Vénus é um caso especial, pois todo o sistema climático gira muito depressa, de modo que tivemos que compensar esse movimento, conhecido como super-rotação, a fim de destacar formações interessantes para estudo. O estudante Kiichi Fukuya desenvolveu uma técnica para superar esta dificuldade."

A super-rotação é um fenómeno meteorológico significativo que, felizmente, não encontramos aqui na Terra. É a feroz circulação este-oeste de todo o sistema meteorológico em redor do equador do planeta, e arrasa quaisquer ventos extremos que possamos ter cá na Terra. Imamura e a sua equipa exploram mecanismos que sustentam esta super-rotação e pensam que as características do clima venusiano à noite podem ajudar a explicá-los.

"Finalmente conseguimos observar os ventos norte-sul, conhecidos como circulação meridional, à noite. O que é surpreendente é que se deslocam na direção oposta aos seus homólogos diurnos," disse Imamura. "Uma mudança tão dramática não pode ocorrer sem consequências significativas. Esta observação pode ajudar-nos a construir modelos mais precisos do sistema climático venusiano, que esperamos possa resolver algumas questões de longa data e sem resposta sobre o clima venusiano e provavelmente sobre o clima da Terra também."

A NASA anunciou recentemente duas novas missões para explorar Vénus com sondas chamadas DaVinci+ e Veritas, e a ESA anunciou uma nova missão venusiana de nome EnVision. Em combinação com a capacidade de observação da Akatsuki, Imamura e a sua equipa esperam poder explorar o clima venusiano não apenas na sua forma atual, mas também ao longo da sua história geológica.

 


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Dados do orbitador venusiano Akatsuki mostrando as assinaturas térmicas de nuvens no lado noturno do planeta pela primeira vez.
Crédito: Imamura et al.


// Universidade de Tóquio (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)

Saiba mais

Sonda Akatsuki:
JAXA
Wikipedia

Vénus:
CCVAlg - Astronomia 
Wikipedia

 
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