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ESTUDO EXAMINA MAIS DE PERTO OS SINAIS DA ÁGUA SUBTERRÂNEA EM MARTE
29 de junho de 2021

 


A região brilhante desta imagem mostra a calote polar que cobre o polo sul de Marte, composta por água gelada e dióxido de carbono gelado. A sonda Mars Express da ESA fotografou esta área no dia 17 de dezembro de 2012, no infravermelho, em luz verde e azul, usando a sua câmara HRSC (High Resolution Stereo Camera).
Crédito: ESA/DLR/FU Berlin/Bill Dunford

 

Em 2018, cientistas que trabalhavam com dados do orbitador Mars Express da ESA anunciaram uma descoberta surpreendente: sinais de um instrumento de radar refletidos do polo sul de Marte pareciam revelar um lago subterrâneo líquido. Desde então foram anunciadas outras reflexões do mesmo tipo.

Num artigo publicado na revista Geophysical Research Letters, dois cientistas do JPL da NASA no sul da Califórnia descrevem a descoberta de dezenas de reflexos de radar semelhantes em torno do polo sul após analisarem um conjunto mais amplo de dados da Mars Express, mas muitos estão em áreas que deveriam ser frias demais para que a água permaneça líquida.

"Não temos a certeza se esses sinais são água líquida ou não, mas parecem estar muito mais difundidos do que o artigo original deu a entender," disse Jeffrey Plaut do JPL, coinvestigador principal do instrumento MARSIS (Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionospheric Sounding), que foi construído em conjunto pela Agência Espacial Italiana e pelo JPL. "Ou a água líquida é comum por baixo do polo sul de Marte ou estes sinais são indicativos de outra coisa."

Cápsula do tempo congelada

Os sinais de radar originalmente interpretados como água líquida foram encontrados numa região de Marte conhecida como SPLD (South Polar Layered Deposits), onde existem camadas alternadas de água gelada, gelo seco (dióxido de carbono congelado) e poeira que assentaram ali ao longo de milhões de anos. Pensa-se que estas camadas fornecem um registo de como a inclinação no eixo de Marte mudou ao longo do tempo, assim como as mudanças na inclinação da Terra criaram idades do gelo e períodos mais quentes ao longo da história do nosso planeta. Quando Marte teve uma inclinação axial menor, neve e camadas de poeira acumularam-se na região e eventualmente formaram a espessa camada de gelo encontrada lá hoje.

Ao irradiar ondas de rádio para a superfície, os cientistas podem observar abaixo destas camadas de gelo, mapeando-as em detalhe. As ondas de rádio perdem energia quando passam pelo material na subsuperfície; conforme são refletidas de volta para a sonda, geralmente têm um sinal mais fraco. Mas, em alguns casos, os sinais que retornavam da subsuperfície desta região eram mais brilhantes do que aqueles na superfície. Alguns cientistas interpretaram estes sinais como implicando a presença de água líquida, que reflete fortemente as ondas de rádio.

Plaut e Aditya Khuller, estudante de doutoramento na Universidade Estatal do Arizona que trabalhou no artigo enquanto estagiava no JPL, não têm certeza do que os sinais indicam. As áreas com hipótese de conter água líquida abrangem cerca de 10 a 20 quilómetros numa área relativamente pequena do polo sul marciano. Khuller e Plaut expandiram a busca por fortes sinais de rádio semelhantes para 44.000 medições espalhadas por 15 anos de dados do MARSIS em toda a região polar sul marciana.

"Lagos" inesperados

A análise revelou dúzias de reflexos brilhantes de radar adicionais numa faixa muito maior de área e profundidade do que nunca. Em alguns lugares, estavam a menos de 1,6 km da superfície, onde as temperaturas são estimadas em -63º C - tão frio que a água congelaria, mesmo que contivesse minerais salgados conhecidos como percloratos, que podem diminuir o ponto de congelamento da água.

Khuller notou um artigo de 2019 no qual os investigadores calcularam o calor necessário para derreter o gelo subterrâneo nesta região, descobrindo que apenas um vulcanismo recente sob a superfície poderia explicar a potencial presença de água líquida sob o polo sul.

"Eles descobriram que seria necessário o dobro do fluxo de calor geotérmico marciano estimado para manter esta água líquida," disse Khuller. "Uma forma possível de obter esta quantidade de calor é por meio do vulcanismo. No entanto, não vimos nenhuma evidência forte de vulcanismo recente no polo sul, de modo que parece improvável que a atividade vulcânica permitisse a presença de água líquida subterrânea em toda a região."

O que explica os reflexos brilhantes se não são água líquida? Os autores não podem dizer com certeza. Mas o artigo fornece aos cientistas um mapa detalhado da região que contém pistas da história climática de Marte, incluindo o papel da água nas suas várias formas.

"O nosso mapeamento deixa-nos alguns passos mais perto de compreender a extensão e a causa destes intrigantes reflexos de radar," disse Plaut.

 


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Os pontos coloridos representam locais onde foram avistados brilhantes reflexos de radar pela sonda Mars Express da ESA na calote polar sul de Marte. Estes reflexos foram anteriormente interpretados como água líquida subsuperficial. A sua prevalência e proximidade com a superfície fria sugere que podem ser outra coisa.
Crédito: ESA/NASA/JPL-Caltech


// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Geophysical Research Letters)

Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
02/10/2020 - Mars Express descobre mais lagos subterrâneos em Marte
27/07/2018 - Mars Express deteta água líquida escondida sob o polo sul de Marte

Mars Express:
ESA 
Wikipedia

Marte:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia

 
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