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PRIMEIRO COMETA INTERESTELAR PODE SER O MAIS PURO ALGUMA VEZ ENCONTRADO
2 de abril de 2021

 


Esta imagem foi obtida pelo instrumento FORS2 montado no VLT (Very Large Telescope) do ESO no final de 2019, quando o cometa 2I/Borisov passou perto do Sol.
Como o cometa viajava à enorme velocidade de cerca de 175 mil km por hora, as estrelas de fundo aparecem-nos como traços de luz, uma vez que o telescópio seguia a trajetória do cometa. As cores nestes traços dão à imagem um ar de discoteca e resultam da combinação de observações em diferentes bandas de comprimentos de onda, destacados pelas várias cores nesta imagem composta.
Crédito: ESO/O. Hainaut

 

Novas observações obtidas com o VLT (Very Large Telescope) do ESO indicam que o cometa 2I/Borisov, o segundo e mais recente visitante interestelar detetado no nosso Sistema Solar, é um dos mais puros alguma vez observados. Os astrónomos suspeitam que, muito provavelmente, o cometa nunca passou perto de uma estrela, o que faz dele uma relíquia intacta da nuvem de gás e poeira que lhe deu origem.

O cometa 2I/Borisov foi descoberto pelo astrónomo amador Gennady Borisov em agosto de 2019, tendo-se confirmado que este objeto vinha de fora do Sistema Solar algumas semanas mais tarde. "O 2I/Borisov pode bem representar o primeiro cometa verdadeiramente puro alguma vez observado," disse Stefano Bagnulo do Observatório e Planetário Armagh, Irlanda do Norte, Reino Unido, que liderou o novo estudo publicado na revista Nature Communications. A equipa acredita que o cometa nunca passou perto de nenhuma estrela antes de passar pelo Sol em 2019.

Bagnulo e colegas usaram o instrumento FORS2 montado no VLT (Very Large Telescope) do ESO, no norte do Chile, para estudar o 2I/Borisov com todo o detalhe, através de uma técnica chamada polarimetria. Uma vez que esta técnica é regularmente usada para estudar cometas e outros pequenos corpos do nosso Sistema Solar, a equipa pôde assim comparar o visitante interestelar aos nossos cometas locais.

A equipa descobriu que o cometa 2I/Borisov tem propriedades polarimétricas distintas das dos cometas do Sistema Solar, com exceção do Hale-Bopp. O cometa Hale-Bopp despertou grande interesse no público no final da década de 1990, altura em que se via facilmente a olho nu, sendo também um dos cometas mais puros que os astrónomos tinham observado até à data. Antes da sua mais recente passagem pelo Sol observada por nós, pensa-se que o Hale-Bopp tenha passado perto do nosso Sol apenas uma vez, o que significa que estaria pouco afetado pelo vento e radiação solares, tratando-se por isso de um cometa bastante puro, com uma composição muito semelhante à nuvem de gás e poeira que lhe deu origem (assim como ao resto do Sistema Solar) há cerca de 4,5 mil milhões de anos atrás.

Ao analisar a polarização juntamente com a cor do cometa para aprender mais sobre a sua composição, a equipa concluiu que o 2I/Borisov é, na realidade, ainda mais puro que o Hale-Bopp, o que significa que traz consigo assinaturas imaculadas da nuvem de gás e poeira que lhe deu origem.

"O facto dos dois cometas serem notavelmente semelhantes sugere que o meio que deu origem ao 2I/Borisov não é assim tão diferente, em termos de composição, do meio do Sistema Solar primordial," explicou Alberto Cellino, um dos coautores do estudo do Observatório Astrofísico de Torino, INAF (Instituto Nacional de Astrofísica), Itália.

Olivier Hainaut, astrónomo do ESO na Alemanha que estuda cometas e outros objetos próximos da Terra, mas que não esteve envolvido neste novo estudo, concorda. "O resultado principal — que o cometa 2I/Borisov não é igual a nenhum outro cometa excepto o Hale-Bopp — é bastante forte," diz Hainaut, acrescentando que "é muito plausível que ambos os cometas se tenham formado em condições muito semelhantes."

"A chegada do 2I/Borisov do espaço interestelar deu-nos a primeira oportunidade para estudar a composição de um cometa de outro sistema planetário e verificar que o material desde cometa é de algum modo diferente da nossa variedade local," explica Ludmilla Kolokolova, da Universidade de Maryland, EUA, que esteve envolvida neste trabalho.

Bagnulo espera que os astrónomos tenham mais uma, e melhor ainda, oportunidade para estudar um cometa deste tipo antes do final desta década. "A ESA está a planear o lançamento do Comet Interceptor em 2029, o qual terá a capacidade de chegar a outro visitante interestelar, se se descobrir um numa trajetória adequada," explica Bagnulo, referindo-se a uma futura missão da ESA.

Uma estória de origens escondida na poeira

Mesmo sem uma missão espacial, os astrónomos podem usar os muitos telescópios colocados no solo terrestre para aprenderem mais sobre as diferentes propriedades dos cometas exteriores ao Sistema Solar como o 2I/Borisov. "Imaginem a sorte que tivemos por um cometa vindo de um sistema a anos-luz de distância de nós se ter simplesmente lembrado de fazer uma viagem até à porta da nossa casa," disse Bin Yang, astrónoma do ESO no Chile, que também aproveitou a passagem do 2I/Borisov pelo Sistema Solar para estudar este misterioso cometa. Os resultados da sua equipa foram publicados na revista Nature Astronomy.

Yang e a sua equipa usaram dados do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, do qual o ESO é um parceiro, assim como o VLT do ESO, para estudarem os grãos de poeira do 2I/Borisov com o intuito de saberem mais sobre o nascimento do cometa e as condições presentes no seu sistema.

A equipa descobriu que a coma do 2I/Borisov — um invólucro de poeira que rodeia o corpo principal do cometa — contém pedrinhas compactas, grãos com cerca de um milímetro ou mais de tamanho. Adicionalmente, a equipa descobriu que as quantidades relativas de monóxido de carbono e água no cometa mudaram drasticamente à medida que este se aproximou do Sol. A equipa, que também inclui Olivier Hainaut, explica que este facto indica que o cometa é constituído por materiais que se formaram em diferentes locais do seu sistema planetário.

As observações de Yang e colegas sugerem que a matéria existente no sistema planetário de origem do 2I/Borisov se encontrava misturada aquando da formação do cometa, desde as zonas próximas da estrela progenitora até às mais afastadas. Uma explicação seria a existência de planetas gigantes cuja forte gravidade faria movimentar o material neste sistema. Os astrónomos acreditam que um processo similar tenha ocorrido nas fases iniciais do nosso próprio Sistema Solar.

Apesar do 2I/Borisov ter sido o primeiro cometa vindo de fora do Sistema Solar a passar pelo Sol, não se tratou do nosso primeiro visitante interestelar. O primeiro objeto interestelar que vimos passar pelo Sistema Solar foi 'Oumuamua, outro objeto estudado com o auxílio do VLT em 2017. Originalmente classificado como cometa, 'Oumuamua foi mais tarde reclassificado como asteroide já que não possuía uma coma cometária.

 

 


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Esta imagem artística mostra como poderá ser a superfície do cometa 2I/Borisov.
O 2I/Borisov foi um visitante vindo de outro sistema planetário que passou pelo nosso Sol em 2019, permitindo aos astrónomos observar de maneira única um cometa interestelar. Apesar dos telescópios no solo e no espaço terem obtidos imagens deste cometa, não temos observações de perto do 2I/Borisov. Cabe por isso aos artistas criarem as suas próprias ideias de como a superfície do cometa poderá ser, sempre baseados na informação científica que temos do objeto.
Crédito: ESO/M. Kormesser


Esta imagem artística mostra como poderá ser a superfície do cometa 2I/Borisov. O 2I/Borisov foi um visitante vindo de outro sistema planetário que passou pelo nosso Sol em 2019, permitindo aos astrónomos observar de maneira única um cometa interestelar. Apesar dos telescópios no solo e no espaço terem obtidos imagens deste cometa, não temos observações de perto do 2I/Borisov. Cabe por isso aos artistas criarem as suas próprias ideias de como a superfície do cometa poderá ser, sempre baseados na informação científica que temos do objeto.
Crédito: ESO/M. Kormesser


// ESO (comunicado de imprensa)
// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// Universidade de Barcelona (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature Communications)
// Artigo científico #1 (PDF)
// Artigo científico #2 (Nature Astronomy)
// Artigo científico #2 (PDF)

Saiba mais

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24/04/2020 - ALMA revela composição invulgar do cometa interestelar 2I/Borisov
01/10/2019 - Astrónomos detetam moléculas de gás em 2I/Borisov
27/09/2019 - Novo visitante interestelar já tem nome: 2I/Borisov
17/09/2019 - Cometa recém-descoberto é provavelmente visitante interestelar

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2I/Borisov:
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'Oumuamua:
NASA/JPL
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Objeto interestelar:
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ALMA:
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ALMA (ESO)
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ESO:
Página oficial
Wikipedia

 
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