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COMETA DA ROSETTA CONTÉM INGREDIENTES DA VIDA
31 de maio de 2016

 


Esta imagem da câmara de navegação da Rosetta mostra o Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e foi obtida no dia 25 de março de 2015 a uma distância de 86,6 km do centro cometário, poucos dias antes de uma passagem rasante que trouxe a Rosetta até cerca de 15 km do cometa. Foi durante este "flyby", no dia 28 de março, que o instrumento ROSINA da Rosetta detetou o aminoácido glicina na atmosfera, ou "cabeleira", do cometa.
A cabeleira é constituída por gases e poeira do núcleo do cometa. O gás é libertado à medida que os gelos são gentilmente aquecidos pelo Sol, arrastando partículas de poeira para o espaço. O estudo da composição química da cabeleira dá aos cientistas, portanto, acesso à composição dos materiais há muito tempo preservados dentro do núcleo cometário.
A imagem tem uma resolução de 7,4 metros por pixel; esta versão processada e cortada tem 6,9 km de comprimento.
Crédito: ESA/Rosetta/NavCam
(clique na imagem para ver versão maior)

 

A sonda Rosetta, que estuda o seu cometa há já quase dois anos, descobriu ingredientes considerados fundamentais para a origem da vida na Terra.

Estes incluem o aminoácido glicina, que é normalmente encontrado em proteínas, e o fósforo, um componente chave do ADN e das membranas celulares.

Os cientistas há muito tempo que debatem a possibilidade importante de que a água e moléculas orgânicas foram trazidas por asteroides e cometas até à jovem Terra depois de arrefecer após a sua formação, fornecendo alguns dos blocos de construção para a origem da vida.

Embora já se conheçam alguns cometas e asteroides com água numa composição parecida às dos oceanos da Terra, a Rosetta encontrou uma diferença significativa no 67P/C-G - alimentando o debate sobre o papel destes objetos na origem da água da Terra.

Mas os novos resultados revelam que os cometas, no entanto, tinham o potencial de entregar os ingredientes críticos para estabelecer vida como a conhecemos.

Os aminoácidos são compostos orgânicos biologicamente importantes que contêm carbono, oxigénio, hidrogénio e azoto, e formam a base das proteínas.

Pistas do aminoácido mais simples, glicina, foram descobertas em amostras enviadas para a Terra em 2006 a partir do Cometa Wild-2 pela missão Stardust da NASA. No entanto, a possível contaminação terrestre das amostras de poeira tornou a análise extremamente difícil.

Agora, a Rosetta fez deteções diretas e repetidas de glicina na atmosfera difusa, ou "cabeleira", do seu cometa.

"Esta é a primeira deteção inequívoca de glicina num cometa," afirma Kathrin Altwegg, investigadora principal do instrumento ROSINA que fez as medições, e autora principal do artigo publicado na revista Science Advances a semana passada.

"Ao mesmo tempo, nós também detetámos algumas outras moléculas orgânicas que podem ser percursores da glicina, sugerindo várias maneiras possíveis para a sua formação."

As medições foram recolhidas antes do cometa alcançar o seu ponto mais próximo do Sol - periélio - em agosto de 2015 ao longo da sua órbita de 6,5 anos.

A primeira deteção surgiu em outubro de 2014 enquanto a Rosetta estava a apenas 10 km do cometa. A próxima ocasião foi durante um voo rasante em março de 2015, quando estava a 30-15 km do núcleo.

A glicina foi também observada noutras ocasiões associadas com erupções do cometa no mês que antecedeu o periélio, quando a Rosetta estava a mais de 200 km do núcleo, mas cercada por uma grande quantidade de poeira.

"Vemos uma forte ligação entre a glicina e a poeira, sugerindo que foi provavelmente libertada juntamente com outros voláteis a partir dos mantos gelados dos grãos depois destes terem aquecido na cabeleira," explica Kathrin.

A glicina transforma-se em gás apenas quando atinge temperaturas um pouco abaixo dos 150ºC, o que significa que é libertada a partir da superfície ou subsuperfície do cometa em poucas quantidades devido às baixas temperaturas. Isto explica o facto da Rosetta nem sempre a detetar.

"A glicina é o único aminoácido que se sabe conseguir formar-se sem água líquida, e o facto de que a vemos com moléculas precursoras e poeira sugere que é formada dentro dos grãos gelados de poeira interestelar ou pela irradiação ultravioleta do gelo, antes de se ligar e ficar conservada no cometa durante milhares de milhões de anos," acrescenta Kahtrin.

Outra deteção emocionante feita pela Rosetta e descrita no artigo é a do fósforo, um elemento-chave em todos os organismos vivos conhecidos. Por exemplo, encontra-se no quadro estrutural do ADN e nas membranas celulares, e é usado no transporte de energia química dentro das células para o metabolismo.

"Ainda há muito incerteza sobre a química da Terra primitiva e é evidente que existe uma enorme lacuna evolutiva por preencher entre a entrega destes ingredientes via impactos cometários e a origem da vida," afirma o coautor Hervé Cottin.

"Mas o ponto importante é que os cometas não mudaram muito em 4,5 mil milhões de anos: eles dão-nos acesso direto a alguns dos ingredientes que provavelmente acabaram na sopa pré-biótica que eventualmente resultou na origem da vida na Terra."

"A variedade de moléculas orgânicas já identificadas pela Rosetta, a que agora se juntam as importantes confirmações de ingredientes fundamentais como a glicina e o fósforo, confirmam a nossa ideia de que os cometas têm potencial para entregar moléculas-chave da química pré-biótica," afirma Matt Taylor, cientista do projeto Rosetta da ESA.

"A demonstração de que os cometas são reservatórios de material pristino do Sistema Solar e veículos que podem ter transportado estes ingredientes vitais para a Terra, é um dos principais objetivos da missão Rosetta, e estamos muito satisfeitos com este resultado."

 


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O instrumento ROSINA-DFMS, a bordo da Rosetta, detetou ingredientes considerados importantes para a vida como a conhecemos na Terra, na cabeleira do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Uma deteção importante foi a do aminoácido simples glicina (topo, C2H5NO2), um composto orgânico biologicamente importante e normalmente encontrado nas proteínas. O fósforo foi também detetado (em baixo, P), um elemento-chave em todos os organismos vivos. Pode ser encontrado no ADN e no ARN, nas membranas das células e no tritosfato de adenosina (ATP), que transporta energia química dentro das células para o metabolismo.
A variedade de moléculas orgânicas identificadas pela Rosetta confirma a nossa ideia de que os cometas têm o potencial para entregar moléculas-chave para a química pré-biótica da Terra.
Crédito: sonda - ESA/ATG medialab; Cometa - ESA/Rosetta/NavCam; dados - Altwegg et al. (2016)
(clique na imagem para ver versão maior)

 


Links:

Cobertura da missão Rosetta pelo Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
12/04/2016 - O cometa que muda de cor
16/02/2016 - Philae enfrenta hibernação eterna
15/01/2016 - Confirma-se que gelo exposto à superfície do cometa da Rosetta é água
03/11/2015 - Resultados da missão Rosetta antes do periélio
30/10/2015 - Primeira deteção de oxigénio molecular num cometa
06/10/2015 - Rosetta espia o lado escuro do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko
29/09/2015 - Cometa da Rosetta é um binário de contacto
25/09/2015 - Rosetta revela ciclo de água do Cometa 67P/C-G
14/08/2015 - O grande dia da Rosetta ao Sol
11/08/2015 - "Fogos de artifício" cometários antes do periélio
07/08/2015 - Há um ano que a Rosetta orbita o Cometa 67P/C-G
04/08/2015 - Ciência à superfície do Cometa 67P/C-G
03/07/2015 - Depressões no Cometa 67P/C-G produzem jatos
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28/10/2014 - O "perfume" do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko
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30/09/2014 - Philae com aterragem prevista para 12 de Novembro
16/09/2014 - Está escolhido o local de aterragem do Philae
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06/11/2009 - Rosetta faz último "flyby" pela Terra a 13 de Novembro 
06/09/2008 - Rosetta passa por Steins: um diamante no céu 
03/09/2008 - Contagem decrescente para "flyby" por asteróide 
28/02/2007 - A semana dos "flybys" 
01/06/2004 - Primeira observação científica da Rosetta 
12/03/2004 - Escolhidos os dois asteróides para aproximação da Rosetta 
09/03/2004 - Sonda Rosetta finalmente lançada

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
Artigo científico (Science Advances)
SPACE.com
redOrbit
New Scientist
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Science Alert
ScienceDaily
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Reuters
AstroPT

Glicina:
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