SEIXOS COMPROVAM ANTIGO LEITO DE RIO EM MARTE
4 de Junho de 2013
Análises e avaliações detalhadas cimentaram a interpretação inicial dos cientistas de rochas que contêm seixos, investigadas o ano passado pelo rover Curiosity: são parte de um antigo leito.
As rochas são as primeiras encontradas em Marte que contêm cascalhos arroios. Os tamanhos e formas dos cascalhos incorporados nestes conglomerados de pedras - desde o tamanho de grãos de areia até bolas de golfe - permitiram aos investigadores calcular a profundidade e a velocidade da água que fluiu neste local.
"Nós completámos quantificações mais rigorosas dos afloramentos para caracterizar a distribuição do tamanho e a forma dos seixos e da areia que compõem estes conglomerados," afirma Rebecca Williams do Instituto de Ciência Planetária, em Tucson, no estado americano do Arizona, autora principal de um artigo na revista Science da semana passada. "Ficámos com um cálculo semelhante à estimativa inicial do passado Outono. No mínimo, o leito corria a uma velocidade equivalente ao andar de uma pessoa - um metro por segundo - e tinha uma profundidade que variava entre o tornozelo e a anca.
As três rochas semelhantes a pavimentos, examinadas com a capacidade telefoto do Mastcam do rover durante os primeiros 40 dias em Marte, são a base do novo artigo. Uma delas, "Goulburn", é imediatamente adjacente ao local de aterragem do rover, "Bradbury Landing". As outras duas, "Link" e "Hottah," estão a 50 e 100 metros para Sudeste, respectivamente. Os cientistas também usaram o instrumento a laser, ChemCam, para investigar a rocha Link.
"Estes conglomerados são incrivelmente parecidos com depósitos de rios cá na Terra," afirma Williams. "A maioria das pessoas conhece o aspecto dos seixos arredondados dos rios. Talvez já tenha pegado numa destas rochas redondas e tenha atirado para a água, vendo-a saltar à superfície. Encontrar algo tão familiar noutro mundo é emocionante e também gratificante."
As pedras maiores não estão distribuídas uniformemente nas rochas. Em Hottah, os pesquisadores detectaram camadas alternantes de cascalho ricas em seixos e em areia. Isto é comum nos depósitos de rios cá na Terra e fornece evidências adicionais para o fluxo de correntes em Marte. Além disso, muitos dos seixos tocam uns nos outros, um sinal de que rolaram ao longo de um ribeiro.
"A nossa análise da quantidade de arredondamento dos seixos fornece mais informações," afirma Sanjeev Gupta do Imperial College, em Londres, co-autor do artigo. "O arredondamento indica fluxo sustentado. Ocorre à medida que os seixos batem uns nos outros várias vezes. Este não foi um fluxo único. Foi sustentado, certamente durante mais que semanas ou meses, embora não possamos dizer exactamente quanto tempo."
Os cientistas estimam que a corrente transportou os cascalhos pelo menos alguns quilómetros.
A atmosfera moderna de Marte é demasiado fina para manter uma corrente constante de água, embora o planeta possua grandes quantidades de água gelada. Vários tipos de evidências já sugeriram que Marte teve diversos ambientes com água líquida. No entanto, nenhumas outras a não ser estas rochas estudadas pelo Curiosity podem providenciar informações sobre o tipo de corrente. As imagens das rochas obtidas pelo Curiosity indicam que as condições atmosféricas na Cratera Gale já permitiram o fluxo de água líquida na superfície marciana.
Durante a sua missão principal de dois anos, os investigadores vão usar os 10 instrumentos científicos do Curiosity para avaliar a história ambiental da Cratera Gale em Marte, onde o rover já descobriu evidências de condições ambientais passadas, favoráveis à vida microbiana.
O rover Curiosity da NASA descobriu evidências de um antigo fluxo de água em vários locais, incluindo no afloramento visto aqui na imagem, a que a equipa científica chamou de "Hottah", com o nome do Lago Hottah nos Territórios Noroeste do Canadá.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
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Este conjunto de imagens comparam o afloramento Link em Marte (esquerda) com rochas parecidas cá na Terra (direita).
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS e PSI
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Esta imagem em alta-resolução obtida pelo Curiosity mostra uma área conhecida como Goulburn Scour, um conjunto de rochas atingidas pelos jactos dos motores do estágio de descida do rover.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS
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