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ACTUALIZAÇÃO DO METEORO RUSSO
8 de Março de 2013

 

Há quase um mês que um grande pedaço de asteróide mergulhou na atmosfera da Terra na manhã de dia 15 de Fevereiro, e proporcionou um grande espectáculo nos céus da Rússia Central. Desde então, especialistas em meteoritos e impactos apressaram-se não só para descobrir de onde veio, mas também para se reunir e analisar o maior número de fragmentos possível. A partir de relatórios e entrevistas recolhidas, tiveram grande sucesso em ambas as frentes.

Primeiro, vamos recapitular a origem deste intruso. Graças a amplas gravações vídeo (muitas de câmaras montadas nos tabliers de carros por cautelosos motoristas russos), tem sido fácil reconstruir as circunstâncias de entrada e, a partir daqui, a órbita pré-impacto. Mas equipas diferentes chegaram a valores diferentes, como a tabela abaixo revela (não são mostradas as incertezas, ver fontes ligadas abaixo).

Órbita do meteoro russo
Autores Semieixo maior Excentricidade Inclinação Periélio Afélio
Borovicka et al. 1,55 UA 0,50 3,6º 0,77 UA 2,33 UA
Zuluaga e Ferrin 1,73 UA 0,51 3,5º 0,82 UA 2,64 UA
Chodas e Chesley 1,73 UA 0,57 4,2º 0,75 UA 2,78 UA

A propagação dos valores surge do modo como cada equipa interpreta os vídeos, deriva a trajectória e a velocidade que o bólide levava quando passou através da atmosfera, e de seguida, deriva uma órbita.

Ainda assim, há o consenso de que o objecto veio de uma zona bem povoada da cintura de asteróides interior. Não é conhecido como foi expelido na direcção da Terra - por enquanto. Por exemplo, o afélio da órbita pode sobrepor-se a uma localização, a 2,5 UA do Sol, onde há uma forte ressonância orbital com Júpiter. Nesse caso, as perturbações gravitacionais do planeta gigante podem ter arrancado o objecto de uma órbita quase circular para a sua eventual rota de colisão com a Terra.

Uma trajectória atmosférica refinada e uma órbita de pré-colisão poderá eventualmente emergir de uma equipa liderada por Peter Brown (da Universidade de Ontario Ocidental). Estão agora a analisar as posições de estrelas em imagens nocturnas capturadas nos locais exactos onde vários vídeos do bólide foram gravados.

Nos links abaixo fica um "top 5" de gravações compiladas por Brown, juntamente com as coordenadas exactas da câmara.

O intruso entrou na atmosfera a cerca de 19 km/s ao longo de uma faixa mais ou menos Este-Oeste. Um satélite meteorológico europeu vislumbrou-o contornando o limbo da Terra. De acordo com a equipa de Juri Borovicka, o percurso de voo do bólide tinha uma inclinação de 16,5º, e começou a quebrar-se relativamente alto, a cerca de 32 km acima do solo.

A luz deslumbrante, mais brilhante que o Sol, certamente chamou a atenção de quem olhava na sua direcção. H. Jay Melosh, especialista de impactos da Universidade Purdue, no estado americano do Indiana, realça que o que muitos estão chamando de rasto de vapor de água, é na realidade um rasto de fumo. "Provavelmente a maioria da massa acabou como poeira fina," explica.

O que certamente capturou a atenção de todos foi a poderosa onda de choque do bólide, que atingiu o solo cerca de 88 segundos depois. Esta explosão estourou inúmeras janelas dentro da própria cidade de Chelyabisnk e nos arredores. Embora muitos tivessem ficado feridos, não houve vítimas mortais.

No entanto, o dano poderia ter sido muito pior. "Toda aquela energia foi distribuída por uma grande área," explica Mark Boslough (Laboratórios Nacionais de Sandia). Se esta explosão com 0,5 megatoneladas tivesse sido direccionada directamente para baixo, realça, a sua bola de fogo teria engolido o chão. Foi o que aconteceu durante o evento Tunguska em 1908, que envolveu uma explosão pelo menos 10 vezes mais potente e muito mais próxima do chão. Mas este destino não recaiu sobre os moradores de Chelyabinsk e nas áreas circundantes, conclui Boslough. "As aldeias ainda estão lá."

Entretanto, especialistas russos em meteoritos têm tentado recolher o máximo possível de pedaços e detritos meteoríticos. Estes caíram sobre uma vasta área perto da cidade de Cherbakul. Na maioria dos casos, os cientistas simplesmente procuraram pequenos buracos na cobertura de neve e cavaram para recolher os seus prémios cósmicos. A maioria das peças são pequenas, não mais de uma polegada em diâmetro, e o maior fragmento encontrado até agora pesa apenas 1,8 kg.

Fragmento de 112,2 gramas do meteorito Chebarkul. Este foi descoberto num campo entre as vilas de Deputatsky e Emanzhelinsk a 18 de Fevereiro. O fragmento mostra uma espessa crosta primária de fusão, veias derretidas e fracturas. O cubo tem 1 cm.
Crédito: meteorite-recon.com, Wikipedia
(clique na imagem para ver versão maior)
 

De acordo com uma equipa de analistas liderada por Viktor Gokhovsky (Universidade Federal dos Urais), os fragmentos são de um tipo comum de meteorito rochoso, chamado condrito, que contém relativamente pouco conteúdo metálico. Dada a energia da explosão, a velocidade de entrada, e a densidade típica dos condritos (cerca de 3,6 g/cm^3), Brown estima que o objecto original tinha um diâmetro de aproximadamente 17 m e uma massa de cerca de 10.000 toneladas.

Melosh, que estuda como os meteoróides se quebram na atmosfera muito mais fina de Marte, acha que as pequenas pedras implicam que o objecto percursor não estava muito bem aglomerado, o que é muitas vezes chamado de "pilha de escombros". Ele explica que os objectos que batem no fino ar marciano "quebram-se várias vezes - como uma cascata de raios cósmicos - por isso não obtemos quaisquer fragmentos grandes."

Mas o que dizer do grande buraco de 16 metros criado no gelo que cobre o Lago Cherbakul? Grokhosvky acredita que foi criado quando um grande pedaço de meteorito, com 60 cm de comprimento e pesando aproximadamente 100 kg, caiu no lago. É o que os mergulhadores esperam encontrar no fundo do lago, a cerca de 10 metros de profundidade, mas após vários mergulhos, ainda estão de mãos vazias.

No entanto, o investigador Evgeny Narkhov (também da Universidade Federal dos Urais), anunciou um mapa preliminar de leituras magnetométricas obtidas numa área com o tamanho de um campo de futebol. O chão do lago mostra vários "pontos quentes", sugerindo que o meteorito partiu-se com o impacto. "Não existem pedaços pequenos e um grande, como se poderia pensar, mas vários fragmentos grandes," realça Narkhov num comunicado de imprensa da universidade. A análise continua a decorrer.

Links:

Vídeos compilados por Brown:
Kichigino (54.50056°N, 61.27165°E)
Yemanzhelinsk (54.756579°N, 61.304044°E)
Kurchatovskiy (55.220774°N, 61.296265°E)
Korkino (54.89092°N, 61.39958°E)
Chelyabinsk Central (55.16632°N, 61.44478°E)

Evento Chelyabinsk - 2013 (meteorito Chebarkul):
Wikipedia
Wikipedia (meteorito Chebarkul)

Meteoros, meteoritos:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia


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A órbita do meteoróide Cherbakul, desde a cintura interior de asteróides até perto da órbita de Vénus, um percurso que o objecto provavelmente seguia há milhares de anos, atravessando a órbita da Terra.
Crédito: NASA/JPL
(clique na imagem para ver versão maior)


O percurso Este-Oeste do meteoróide Cherbakul ao longo de aproximadamente o último minuto antes do impacto. Os números azuis são a altitude do objecto, e o asterisco indica o ponto de brilho máximo, que ocorreu (segundo cientistas da NASA) a uma altitude de 23,3 km.
Crédito: NASA/JPL/S. Chesley
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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